domingo, 23 de agosto de 2009

“Mau Tempo no Anal – Diário de um paciente” de “André Moa”


Este diário é uma espécie de auto-retrato dos dias do paciente que foge à impaciência da circunstância.



Sem lamúrias, um testemunho roubado à respiração da esperança, sempre a caminho do estado positivo de “Ser”!...


Para todos os efeitos este seria um tempo de dias doídos, paridos sofrimentos das entranhas. Mas não é tanto que o André Moa revela-se Homem pouco dado a estabelecer relação de grandes amizades com esta doença que se lhe revela cruel mas em que ele manda no que tem a ver com a forma como o afecta.


Ele decide que não é “carcomido” por arrelias tumorais de Dona Próstata e/ou de Senhor Recto nem por maus fígados de ambos.


Está então decidido e rédeas tomadas ainda que custoso seja levar avante a intenção, inútil só em momentos poucos, que é forte o Homem e afoito ao que se nos revela.


Então dá-se a escrever como se de outro a que assistisse de fora ou de lado, mais de lado talvez, a par, pois a partilha é tão visceral que impossível seria dar-se sem que de dentro do próprio tudo acontecesse.


E fala-nos do suplício assumindo um invulgar tom de humor “satírico”. Tudo numa escrita quase quente e acolhedora como se o maior dos sofrimentos estivesse a ser assistido por exemplo num ecrã de televisão. Diz-nos do indizível para lá do que seria expectável que fosse dito. Ultrapassa-se, ultrapassa as expectativas, portanto.


Pelo meio fala-nos dos livros que lê ou se propõe ler ou ainda dos que já leu e de que se lembre por razões a que rouba exemplos que lhe ocorrem e associa à sua própria situação. Escreve nos seus próprios poemas as razões que atribui às emoções imediatas…


É de homem forte alma de poeta que nos fica esta experiência de vida que foi a doer mas que para nós passa como quase humor em auto-retrato. Agarra a esperança nos olhinhos abertos do neto pequenininho e a fé na força coragem que a si próprio arranca. Reabastece-se de energias na presença (mais ou menos) física dos Amigos que são bons, no atento tratamento que lhe é dado por médicos e todo o pessoal, enquanto internado, na partilha de sentires com a filha… no voo das andorinhas, no sol lá fora…


Recomenda-se portanto a todos esta obra porque a qualquer pode acontecer precisar da força deste relato para fabricar a magia necessária que seja suporte à anunciação de uma qualquer doença que em nós resolva instalar-se.